Dando início à série de novas práticas de gestão, nosso artigo hoje é sobre Gestão Ágil. Você já ouviu falar?
No nosso último artigo sobre “por que falamos em novas práticas de gestão”, explicamos as revoluções industriais que estamos passando há mais de 200 anos sob o ponto de vista de liderança. A evolução da tecnologia, da sociedade, dos negócios, entre outros, foi acompanhada também pelas evoluções dos modelos de gestão.
Nesse artigo, quero te falar sobre um modelo de gestão que pretende trazer respostas para o momento que estamos vivendo hoje, é o modelo de gestão ágil. Vamos entender melhor como ele funciona na prática?
A gestão ágil nasceu nas indústrias de software e tecnologia para se contrapor aos métodos tradicionais de gerenciamento. Porém, hoje, ela pode ser totalmente aplicada em diversos outros setores e segmentos de mercado. Sabia disso?
Diferente de outros modelos de gestão que temos atualmente, a premissa da gestão ágil é suprir a necessidade de organização dos projetos e equipes, oferecer uma comunicação transparente entre os membros da equipe, propor mais flexibilidade a mudanças e realizar uma entrega contínua. Com isso, as expectativas e a experiência do cliente (interno ou externo) ficam alinhadas e são o centro das atenções do time.
Este modelo de gestão surgiu lá no final dos anos 90 e foi formalizada no início dos anos 2000 através de um documento que se chamou o “Manifesto ágil”. Foi uma reunião de diversos líderes do mundo todo que já estavam começando a aplicar novas técnicas de gerenciamento de projetos através de uma gestão ágil diferente do que havia sido aplicada até então.
Esses líderes começaram a perceber que aquele jeito novo de fazer estava trazendo muito mais resultado comparando ao que eles vinham aplicando até o momento, em diversos lugares do mundo. Por isso, foi realizada uma reunião com o intuito de definir um padrão para um modelo de gestão.
Como resultado, eles chegaram à conclusão que por mais que houvesse nuances entre o que cada um fazia, existiam valores e princípios comuns, que eram a união de todas aquelas novas metodologias que estavam sendo aplicadas naquele momento.
A partir dessa análise foi visto que em vez de desenharem um único método que sirva para todas as situações, em todos os lugares do mundo, o mais importante era organizar os princípios e valores que caracterizavam esse modelo de gestão.
Você já está entendendo que na verdade o modelo de gestão ágil é mais sobre princípios que métodos, certo?
Isso mesmo! O que o Manifesto Ágil fez foi consolidar 4 valores e 12 princípios ágeis para que se consiga implantar esse modelo de gestão na sua empresa, na sua equipe, nos seus projetos. Vamos ver um pouco mais a seguir.
Antes de tudo: é uma mudança de mentalidade
Antes de começarmos a pensar sobre qual método ou ferramenta vamos utilizar pra implementar uma gestão ágil, a prioridade é entender que tudo começa em ensinar o time uma nova mentalidade. Pois de nada adianta iniciar um novo método com comportamentos antigos. Esse tem sido o grande motivo de fracasso na implementação do ágil em inúmeras organizações: o foco no método e não nas pessoas!
Nos próximos artigos vou te falar sobre metodologias, não se preocupe, mas agora é mais importante você entender os valores que precisarão ser explicados ao time (e seus líderes), quase que catequizando-os para que, depois, o método funcione.
Vamos aos valores!
Passamos muito tempo definindo processos rígidos, acordando SLA’s (Service Level Agreement – acordos de nível de serviço), e isso afastou as pessoas, o olho no olho foi se perdendo no meio de tanta processualização de tudo! A frase “Conforme combinado, segue tal coisa” funcionou por muito tempo, mas agora, com o aumento da complexidade, precisamos de mais criatividade para solução dos problemas e isso exige cocriação, de gente criando juntas e olhando o problema sob visões diferentes. Além disso, precisamos humanizar as relações para que haja real engajamento das pessoas, afinal, somos trabalhadores do conhecimento (como dizia Peter Ducker) e não máquinas apertadores de botões (essa era já acabou!)
Leia o artigo anterior pra saber mais!
Perguntas que você pode se fazer sobre seu time ou o processo para entender esse valor na prática:
Como assim, Karin? Acabamos burocratizado demais os nossos processos e acabamos escravos dos documentos em detrimento da ação.
Quantos de nós já ficamos tanto tempo descrevendo algo que quando terminou a “descrição”, aquilo já estava obsoleto? Pois é! Num mundo altamente volátil, precisamos trabalhar com ciclos curtos de experimentação. Se temos uma ideia ou uma hipótese a provar, construímos um pequeno piloto (MVP – Produto Mínimo Viável) e testamos. A partir desse teste temos resultados palpáveis para evoluir nossa ideia ou produto ou processo e depois nos preocupamos em escrever mas sem nunca engessar.
Dentro desse conceito, a cada ciclo, você entrega um produto/processo melhorado, com mais valor para o cliente. Você não precisa ter tudo feito e perfeito para começar a aplicar e a ouvir seu cliente. Nesse caso, vale a máxima: “Feito é melhor que perfeito”, pois só quando seu produto estiver na mão do seu cliente é que você poderá ouvir o feedback e melhorá-lo de forma sustentável… antes disso, são só hipóteses.
O mesmo vale para aqueles ppts gigantes que o time fica gastando horas fazendo para validar uma ideia com a diretoria. Será que, ao invés de gastar esse tempão fazendo uma apresentação, não seria melhor simplificar o processo e testar a hipótese? Exigir menos texto e mais ação?
Perguntas que você pode se fazer sobre seu time ou processo para entender esse valor na prática:
Você já deve ter ouvido a expressão: “Coloque o cliente no centro”. Esse valor é sobre isso! Entregar valor para o cliente é a prioridade do time mesmo que isso exija replanejar acordos e encontrar caminhos alternativos.
O conceito aqui é do aprendizado contínuo com o cliente. Se a necessidade do cliente muda, precisamos ter uma mentalidade adaptável e processos flexíveis para nos adaptarmos com a menor dor possível.
Nada pior que ter um time que só sabe “seguir o procedimento” e nada mais, que quando é demandado pelo cliente de algo que “foge da regra” se perde e diz: “Não posso te atender pois meu sistema ou meu processo não permite”. Se você, como cliente, já passou por situações assim, sabe o quanto é frustrante. Mas será que não é isso que estamos criando nas nossas empresas super processualizadas? Se não tiver na regra, o cliente que se lasque!
Será que ouvimos nossos clientes o suficiente quando desenhamos soluções pra ele? Será que incluímos esse cliente no processo antes, durante e depois para avaliar sua real percepção do nosso produto ou serviço?
Como está a jornada do seu cliente na relação com sua empresa? Você já parou pra pensar em quais os empecilhos que irritam ou afastam seu cliente no dia a dia?
E quando falo cliente, pode ser sim seu consumidor (aquele que paga as contas) mas também podem ser seus pares internos.
Perguntas que você pode se fazer sobre seu time ou processo para entender esse valor na prática:
O mundo é complexo e é imprevisível, pois são muitas variáveis que muitas vezes não controlamos. Portanto, de nada vale ficar planejando tudo nos mínimos detalhes num horizonte muito longo, sabendo que muitas variáveis ocorrerão no meio do caminho que exigirão ajustes.
Ah, mas então planejar saiu de moda? Nem pensar!
É planejar de forma macro o médio prazo e com detalhes o curto prazo. E ter rotinas de revisão do plano periódicas para garantir a adaptabilidade constante e não ficar se apegando a planos e objetivos que não fazem mais sentido e que já não é mais o que entrega valor para o negócio.
Perguntas que você pode se fazer sobre seu time ou processo para entender esse valor na prática:
Percebeu como são importantes os valores desse modelo de gestão? É muito mais uma questão de modelo mental e comportamental do que processos e ferramentas.
Para ter uma organização ágil, primeiro precisamos desenvolver no time as novas habilidades necessárias para esse tempo:
No próximo artigo, vamos dar continuidade às novas práticas de gestão para entender melhor sobre os princípios e métodos ágeis e como eles se aplicam na vida real.